O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutiu brevemente a situação da Venezuela com Donald Trump durante uma ligação realizada na segunda-feira (6). Lula afirmou que qualquer solução para a crise no país vizinho deve ser pacífica e diplomática, defendendo o diálogo como única via possível.
De acordo com fontes próximas à conversa, o presidente brasileiro disse que ele e Trump devem tratar do tema venezuelano “de forma oportuna e responsável”. Lula também reforçou que o governo brasileiro cobrou a apresentação das atas eleitorais de 2024, nunca fornecidas pelo regime chavista.
O petista mencionou que não mantém diálogo com Nicolás Maduro desde a votação que garantiu ao ditador mais um mandato sob acusações de fraude. O assunto ganhou nova projeção internacional após o Prêmio Nobel da Paz ser concedido à opositora María Corina Machado, impedida de concorrer nas eleições de julho — um prêmio que, segundo diplomatas, era uma obsessão para Trump.
Durante os 30 minutos de conversa, Lula também pediu a Trump a retirada do tarifaço imposto ao Brasil e a suspensão de sanções aplicadas a autoridades brasileiras, como as da Lei Magnitsky, sem citar o ministro Alexandre de Moraes.
A crise venezuelana também foi tema da reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o enviado americano Richard Grenell, em setembro, no Rio de Janeiro. O governo brasileiro acompanha com preocupação a escalada de tensões, especialmente após os EUA declararem cartéis venezuelanos como organizações terroristas e deslocarem forças navais para a costa da Venezuela.
Maduro classificou a movimentação militar como “um cerco e uma ameaça”. Nas últimas semanas, quatro lanchas de supostos narcotraficantes foram destruídas por ataques americanos, em águas próximas à Venezuela. Washington, no entanto, não apresentou provas de que as embarcações transportavam drogas.
Caracas acusa Trump de usar o combate ao narcotráfico como “pretexto para derrubar Maduro e controlar as reservas de petróleo venezuelanas” — as maiores do mundo. Em outro episódio, o governo venezuelano afirmou que cinco caças americanos se aproximaram de sua costa, elevando a tensão regional.
Lula tem mantido posição crítica às ações militares dos EUA. Na Assembleia-Geral da ONU, ele destacou que “usar força letal em situações que não constituem conflitos armados equivale a executar pessoas sem julgamento”, defendendo que a via diplomática “jamais seja fechada na Venezuela”.
Após a ligação entre os presidentes, o secretário de Estado Marco Rubio conversou com Mauro Vieira. Em nota, o escritório de Rubio informou que ambos concordaram em criar um “mecanismo bilateral para impulsionar interesses econômicos mútuos e prioridades da região” — o que diplomatas brasileiros interpretam como uma referência indireta à Venezuela.
Integrantes do governo Lula afirmam que não há objeções à inclusão do tema venezuelano nas conversas com os EUA, desde que respeitados os limites do direito internacional. A orientação de Brasília é manter o diálogo aberto, sem apoiar ações unilaterais ou medidas que acentuem a instabilidade na América do Sul.